segunda-feira, 14 de junho de 2010

A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL: DESAFIO DA ESCOLA

A INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA MENTAL: DESAFIO DA ESCOLA


Artigo Acadêmico
Odilon Manske 17/01/2008


RESUMO

A inclusão escolar de alunos com deficiência mental e o conseqüente desafio que esta prerrogativa representa para o modelo atual de escola que temos em nosso país, tanto em termos de estrutura física como também quanto a falta de formação especial de docentes para atuar nesta área, está diretamente relacionado de como a nossa sociedade como um todo, lidou com esta problemática ao longo da história. Ainda para uma melhor compreensão do diferente é necessário repensar a terminologia conceitual, pois da forma como o termo deficiência é posto, caracteriza uma definição com cunho defeitológico, algo que não é eficiente, que para nossa sociedade é excludente por si só.

Palavras-chave: Necessidades Especiais; Inclusão; Sociedade.


1 INTRODUÇÃO

Qualquer pessoa que for a algum país desenvolvido, principalmente os que compreendem a Europa Central, admirar-se-á em encontrar inúmeras pessoas com todo tipo de necessidades especias nos mais variados espaços públicos. Fato que pude constatar durante minha estadia na Alemanha para conclusão de meus estudos de filosofia ainda no período de 1987 a 1995. A primeira impressão que tive foi de que aquele país talvez tivesse um número elevado de pessoas com deficiência. Visto que eu as encontrara nos mercados, nos centros de compras, nos meios de transporte públicos, nos parques de lazer e mesmo na universidade em que eu estudava.

Para minha surpresa, constatei mais tarde através de estatísticas elaboradas por esses países, que a incidência de pessoas com algum tipo de deficiência física era muito maior nos países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos.

A pergunta óbvia que tive de fazer era: se em nosso país havia um número muito maior de pessoas com estes problemas onde elas estavam? Ou, o que faziam? Pergunta esta que até hoje não quer calar e que será tratada neste trabalho.

Outra questão que será levantada é o porquê de se promover a inclusão destas pessoas na escola e como é a estrutura física e pedagógica das mesmas para atender a estas demandas? Qual deveria ser o papel do Estado nesta empreitada?


2 TRABALHAR O IGUAL E O DIFERENTE: UMA PERSPECTIVA PEDAGÓGICA

Para uma melhor compreensão do ser diferente é necessário repensar a terminologia conceitual, pois da forma como o termo deficiência é posto, caracteriza uma definição com cunho defeitológico, algo que não é eficiente, que para nossa sociedade é excludente por si só. Enquanto perspectiva pedagógica é necessário significar a dialética entre ser igual e ser diferente, com toda a problemática que isso engloba, na busca de uma práxis pedagógica interativa e integrativa, que valorize a diversidade e estimule sobretudo a solidariedade para ir de encontro ao resgate da dignidade humana.

Na perspectiva da dialética entre ser igual e diferente é possível trabalhar com a diversidade e construir sistemas integrativos descentralizados com a possibilidade de um forte entrelaçamento social. Isso pode ocorrer tanto no ambiente escolar como em toda esfera social.

Sob este ponto de vista, grupos e escolas especiais vão se tornando obsoletos, uma vez que representam uma visão isolacionista e consequentemente retrógrada e distanciada de uma prática integrativa e interativa, que acaba relegando àquelas pessoas ao ostracismo, afastando-as do convívio social. Pois, a exemplo dos países desenvolvidos é preciso promover a inclusão em todas as escolas, propiciando desta forma a construção do desenvolvimento de habilidades para que mais tarde estas pessoas se sintam de fato integradas no tecido social.

Certamente isto gera polêmica entre todos os envolvidos, mas por outro lado presta um grande serviço no sentido de que neste processo vai havendo uma negação do “ser” diferente no convívio com o igual e uma negação do igual na medida em que convive com o diferente. É neste processo mutuo de se conhecer que está o cerne da conscientização. É nisto que consiste a significação dialética, ou seja, a capacidade de conviver com a diversidade, pondo fim a preconceitos oriundos da própria ignorância, pelo fato de nunca ter convivido lado a lado com estes seres humanos. Ainda de acordo com Mantoan (2005, p. 24), “inclusão é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós.”

Neste sentido, a inclusão escolar não é somente importante como necessária, pois é a partir da escola que novas capacidades serão desenvolvidas e o objetivo final é a plena integração dessas pessoas na sociedade.


3. ESTRUTURA FÍSICA PARA ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA ESCOLA E NA SOCIEDADE

Nos países desenvolvidos todos os acessos aos serviços públicos, bem como centros de compras, supermercados, estações de metrô e trem, estabelecimentos de ensino entre vários outros tem uma entrada especial para essas pessoas.

A realidade encontrada no nosso país é muito diferente, praticamente não existe estrutura alguma que contemple os quesitos mínimos para proporcionar uma maior mobilidade para pessoas com necessidades especiais. O resultado é que o direito de ir e vir destas pessoas, enfim, sua independência é solapada, gerando uma grande dependência física e psíquica, com resultados extremamente negativos se tratando de auto-estima e motivação para a convivência social. Este talvez seja o real motivo de se encontrar pouquíssimas pessoas com estas necessidades nos locais públicos, em contraste com os países desenvolvidos.

Em nossas escolas a realidade não é diferente. Como exemplo podemos citar a conclusão ainda no ano de 2006 da Escola de Ensino Fundamental Pedro Álvares Cabral, no município de Vacaria-RS, moderna em quase todos os quesitos, como laboratório de informática e de ciências, jardim interno, refeitório etc., no entanto não previram a construção de rampas de acesso ao segundo piso, banheiros adaptados, entre outras coisas, dificultando o livre acesso e a independência de dois alunos que freqüentam a escola. Portanto, por mais moderna que ela seja, sua estrutura física não está apta para recebê-los.

No entanto, estas dificuldades estruturais não podem servir de subterfúgios para não receber estes alunos, onde cada minuto perdido em suas vidas é um tempo precioso demais para ser desperdiçado; uma vez, que neste ambiente de convívio com outras pessoas acontece a real inclusão e a perspectiva de um pleno desenvolvimento de suas capacidades. Do contrário, protelando a aceitação destes alunos, corre-se o risco de se ver naufragar avanços obtidos anteriormente por eles, ou negando-lhes a única chance de usufruir duma vida capaz de desenvolvimento, portanto mais digna.

Deste modo, a sociedade deve exigir que o Estado, tanto na esfera federal, como estadual e municipal cumpra o seu papel. Ele deveria servir de exemplo à sociedade enquanto fomentador de uma práxis mais humanitária no sentido de facilitar a vida dessas pessoas, humanizando o acesso adequado (com rampas, portas especiais, entre outros) a todos os locais e serviços públicos, incluindo a própria escola.

Se partirmos do princípio, que através da educação a escola propicia o processo que engloba o desenvolvimento e a expansão das capacidades que colocam o indivíduo (todos os indivíduos) na condição de aprender, interagir, desenvolver potenciais de rendimento, resolver problemas e estabelecer relações; consequentemente haverá um grande benefício para os alunos portadores de algum tipo de necessidade especial. Uma vez que eles não podem ser tomados como estáticos ou inertes, mas donos de toda uma capacidade de aprender que deve ser desenvolvida através de ferramentas pedagógicas adequadas.

É necessário ainda, que a comunidade escolar exija que o Estado, através dos órgãos competentes, promova maciçamente a qualificação de docentes para atuar com crianças portadoras de necessidades especiais.


4 CONCLUSÃO

Concluímos com este trabalho que a inclusão escolar de alunos com necessidades especiais é de suma importância e deve ser apoiada por toda comunidade escolar. É na escola que a real inclusão deve iniciar, para que depois estas pessoas tenham a chance de uma vida normal, se sintam incluídos na comunidade em que vivem, possibilitando inclusive sua absorção no mercado de trabalho. Isso significa um grande ganho em termos de qualidade de vida, além de dignificar sua existência.

Por outro lado, não basta o Estado pregar e impor a inclusão se ele mesmo, através dos órgãos competentes, não fornecer as ferramentas necessárias para sua implementação.

Por fim, faz-se necessário fomentar o debate com toda a sociedade para que o manto do preconceito e da ignorância seja despido, pois é no conhecimento do outro, de suas necessidades, limitações e anseios que está a semente da conscientização e com ela certamente se iniciará uma nova fase.


5 REFERÊNCIAS

MANTOAN, M. T. E. Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. Nova Escola. São Paulo, n. 182, p. 24-26, maio 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário