quarta-feira, 28 de abril de 2010

TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS

TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS


Odilon Manske

21/02/2008


RESUMO

As teorias crítico-reprodutivistas surgem enquanto críticas pautadas pelo marxismo ao modelo de educação nas sociedades capitalistas, porém são aplicáveis também ao modelo educacional do socialismo real. Na sociedade atual estas teorias perdem força, uma vez que desconsideram o acumulo histórico de valores e virtudes atemporais adquiridos pela escola, que transcendem a modelos econômicos e políticos, portanto não é possível a compreensão do modelo de educação na sua totalidade com base nestas teorias.

Palavras-chave: Determinantes Sociais; Escola; Inclusão Social.


1 INTRODUÇÃO

As sociedades humanas no decorrer da história, tem-se utilizado da educação enquanto ferramenta indispensável para transmitir conhecimentos, valores, hábitos enfim, uma totalidade de práxis social necessária para se reproduzir e continuar existindo.

Com o surgimento das sociedades divididas em classes sociais antagônicas, esse processo ganhou uma nova dinâmica, ou seja as necessidades das classes dominantes que exerciam o poder não consistia apenas em transmitir conhecimentos adquiridos para se reproduzir, mas fundamentalmente para se perpetuar no poder. Assim, temos o advento de uma escola que através da educação visava exclusivamente atender os interesses dos que detinham o poder em detrimento dos dominados.

Com a revolução industrial e burguesa, que varreu o feudalismo da Europa vimos o surgimento do capitalismo que dividia a sociedade fundamentalmente em duas classes sociais, ou seja a burguesia detentora do capital e o proletariado que dispunha apenas de sua força de trabalho.

Com a expansão do capitalismo e a necessidade inerente por recursos humanos especializados (engenheiros, técnicos, pessoal burocrático, etc.), a escola começa a desempenhar um papel mais amplo, porém limitada somente aos interesses do capital, que além de formar mão-de-obra especializada reproduz também a ideologia deste sistema. Daí o papel da determinação social da educação e o seu aspecto excludente e marginalizante. Provavelmente é aí que encontramos as raízes que embasaram as teorias crítico-reprodutivistas.

E na atualidade, podemos afirmar que a educação reproduz o sistema social? Ela é passível de mudanças? As teorias crítico-reprodutivistas são aplicáveis na sua totalidade para entender o modelo atual de educação? A partir da análise das determinantes sociais podemos elaborar uma proposta aplicável ao atual modelo de educação? Apesar das implicâncias teóricas é disto que trataremos neste trabalho.


2 SISTEMAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO

Ao adotarmos uma postura crítica em relação ao papel da escola em determinada sociedade, percebemos que no decorrer da história das sociedades humanas fundadas sob os mais diversos modelos econômicos, percebemos que o modelo de escola sempre foi reflexo e o instrumento de reprodução deste ou daquele sistema específico. Tenha ele sido escravagista, feudal, capitalista, socialista, de cunho democrático, fascista ou ditatorial.

Se as teorias crítico-reprodutivistas são aplicáveis ao modelo capitalista, assim também o são ao modelo do socialismo real vivenciado no leste europeu até no final do século XX, porém com uma diferença enorme. Se por um lado o modelo de educação destes países reproduzia um ideal de sociedade concebido pelos teóricos do partido no poder, jamais posto em prática e distante da realidade, por outro lado reproduzia também o caráter ditatorial da verdade única, obediente a um rígido sistema de controle, inerente a este sistema de ditadura de um partido. Impossibilitando desta forma que teorias crítico-reprodutivistas ou qualquer crítica ao sistema de educação viesse a tona. Os teóricos do partido no poder se utilizavam sim das teorias crítico-reprodutivistas, mas para criticar o modelo ocidental, faltava-lhes olhar para o próprio umbigo, mas a verdade absoluta da qual se achavam donos lhes impedia de perceber que o seu modelo de educação nada mais era que a extensão do tentáculo do Estado na escola para se reproduzir e perpetuar.

Se na nossa sociedade nos utilizamos de teorias marxistas para criticar o modelo de educação, não raramente buscando nelas inclusive modelos de uma sociedade socialista, sob a alcunha aparentemente inocente de transformações sociais ou sociedade igualitária, podemos estar trilhando um caminho equivocado, cujo resultado desastroso já foi comprovado pela história.

Portanto, entendemos que o marxismo pode nos fornecer as ferramentas teóricas para o entendimento e discernimento da história das sociedades humanas e os seus reflexos nos respectivos modelos de educação sob uma perspectiva crítica, porém sem incorrer na tentação de buscar o modelo social proposto por ele.

A escola pode e deve a partir da crítica das teorias crítico-reprodutivistas, produzir transformações sociais importantes, mas aqui não entendida como revolução e sim transformações que visem o desenvolvimento de todas as capacidades e habilidades do indivíduo para promover a verdadeira inclusão social, levando em conta sua diversidade e singularidade, salvaguardando princípios de liberdade, solidariedade e humanidade.


3 A EDUCAÇÃO COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

As teorias crítico-reprodutivistas estão pautadas na afirmação de que a educação sempre reproduz o sistema social no qual esta inserida, reproduzindo conseqüentemente as desigualdades sociais, incorrendo de certa forma num determinismo de classe. No entanto os crítico-reprodutivistas não apresentam uma proposta pedagógica, estão limitados às análises do determinismo social, enquanto crítica ao modelo de educação.

Neste contexto, acreditamos que podemos transcender a partir desta teoria, pois se de um lado a escola reproduz as injustiças, por outro ela é passível de provocar mudanças. Prerrogativa alicerçada na afirmação que ao longo da história da educação existiu certa continuidade na transmissão de valores éticos e humanistas que transcendem os modelos sociais e, ainda de acordo com Saviani (1991, p. 21), “o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens”.

Portanto, se a grosso modo a escola reproduz a sociedade e as injustiças sociais, por outro lado ela reproduz também tendências humanistas acumuladas ao longo da história da humanidade que devem ser priorizadas e aprimoradas visando a transformação da realidade no sentido de uma sociedade mais justa, que resgate sobretudo o sentido da vida, da solidariedade, dos princípios éticos e de justiça social. Pois na medida em que o homem apreende o mundo ele é humanizado. Desta forma, as teorias crítico-reprodutivistas não são aplicáveis para entender o processo de educação na sua totalidade.

Uma atividade econômica local ou regional pode determinar o tipo de educação a ser desenvolvida, inclusive influenciar definitivamente sobre os cursos profissionalizantes ou superiores oferecidos. Isto pode ser visto como condicionante social, mas longe de ser uma reprodução de injustiça social. Parece plausível que se trata de uma crítica infantil à economia de mercado.

É esta transformação lenta e silenciosa, promovida pela educação e a economia de mercado, pautada por relações nem sempre livres de contradições que os marxistas de plantão não compreendem.

O nosso grande problema não é a economia de mercado, mas a falta dela. É através dela, pelos empregos gerados, que se promove a inclusão social. Pois com a melhoria dos salários os jovens podem investir mais na sua formação e os pais podem garantir uma melhoria na qualidade de vida para si e para os seus filhos. Os trabalhadores atuais já não vendem simplesmente sua força de trabalho, mas vendem conhecimento adquirido através dos estabelecimentos de ensino.

Inclusão social significa antes de tudo, resgatar o significado ético do trabalho. Em qualquer sociedade, seja ela americana, alemã ou japonesa determinados trabalhos considerados degradantes por nossa sociedade, como coleta de lixo, construção civil, limpeza pública, serviços gerais entre outros, lá são desenvolvidos com a maior dignidade.

Nestes e outros países existe uma valorização muito grande pelo trabalho manual e uma compensação financeira em termos de salário adequada a sua realidade, obviamente muito diferente da nossa sociedade.

Portanto, faz-se necessário o resgate ético do trabalho que poderá ser forjado pela educação através da prerrogativa “saber fazer”.

Ainda na possibilidade de perceber a educação enquanto ferramenta na construção de uma sociedade mais justa é necessário resgatar o caráter científico da pedagogia tradicional. Ainda de acordo com Saviani (1991, p. 103), “a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber elaborado, e não do saber espontâneo, do saber sistematizado e não do saber fragmentado, da cultura erudita e não da cultura popular”.

O que entendemos por transformação social ou por uma sociedade mais justa? Na nossa compreensão é um processo em cujo desenvolvimento são conquistadas as oportunidades iguais para todos, com o propósito do pleno desenvolvimento do ser humano, capacitando-o e disponibilizando as ferramentas necessárias para que ocupe o seu lugar na sociedade enquanto indivíduo crítico, solidário e humano para o pleno exercício da cidadania.

Este processo não ocorre de forma espontânea e livre de embates, pois reconhecemos que existem muitos interesses em jogo, somente a sociedade organizada e as instituições, incluindo fundamentalmente a escola, podem interferir decisivamente no desenvolvimento deste processo. Portanto vimos a escola não somente como parteira do saber, mas como a grande impulsionadora da inclusão social.


4 CONCLUSÃO

Concluímos que as teorias crítico-reprodutivistas desempenharam papel importante para o entendimento crítico das mais variadas sociedades humanas e seus respectivos modelos de educação.

Porém hoje, devido às complexidades das mudanças sociais operadas pela revolução técnico-científica estas teorias perderam credibilidade. Primeiro por desconsiderar o acumulo histórico de valores e virtudes adquiridos pela sociedade que consideramos atemporais, os quais transcendem a qualquer modelo político e econômico. Segundo porque se de um lado a educação é determinada pelas condicionantes sociais, não por isso ela reproduz as injustiças sociais, ao contrário, ela pode funcionar como atenuante destes problemas, nem sempre as condicionantes sociais podem ser vistas negativamente para a educação. E terceiro porque esta teoria não apresenta uma proposta pedagógica alternativa.

Finalmente para transcender a partir desta teoria e elaborar uma nova concepção de educação é necessário abstrair das tendências contemporâneas de educação. Pois assim como as teorias crítico-reprodutivistas tem a sua contribuição para entender o modelo de educação, certamente as outras concepções de educação terão muito a nos dizer.


5 REFERÊNCIAS

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.

PAPER SOBRE OS PRÉ-REQUISITOS, PERFIL, HABILIDADES E COMPETÊNCIAS PARA A ATUAÇÃO DOCENTE

PRÉ-REQUISITOS, PERFIL, HABILIDADES E COMPETÊNCIAS PARA A ATUAÇÃO DOCENTE


Odilon Manske

16/10/2008


RESUMO

Os pré-requisitos, perfil, habilidades e competências para a atuação docente, relacionam-se com a tradução no ambiente escolar das novas tecnologias de informação e comunicação. Para que isto ocorra efetivamente, necessitamos de mudanças estruturais no atual modelo de ensinar. Em que o corpo docente poderá desempenhar papel fundamental no desenvolvimento e na construção do conhecimento inteligente, imprescindível para forjar aptidões nos alunos que os capacitem para responder logicamente aos desafios da vida.

Palavras-chave: Era digital; Atuação docente; Conhecimento inteligente.


1 INTRODUÇÃO

Vivemos numa sociedade cada vez mais tecnificada e informatizada, respaldada pela profunda valorização da informação. Certamente que isto exige aptidões e competências por parte do corpo docente para por em prática métodos de ensino inovativos que contemplem a realidade digital no qual a sociedade atual se encontra.

Pois acreditamos que o momento sugere uma ampla inclusão digital em nosso país. Sobretudo ela deveria acontecer em consonância entre as instituições do Estado e a iniciativa privada. Pois através dela e de métodos inovadores de ensino nos é dado a chance de almejar e consolidar uma formação humana progressista, ou seja, uma formação que vise o social, o ecológico, o ético, a solidariedade, enfim, a busca pela realização da própria felicidade humana.

Por outro lado, a sociedade contemporânea também clama por uma educação qualificada, indispensável para uma formação profissional capacitada e competente em todos os níveis da atividade humana. Isto somente será possível com uma formação do corpo docente de igual forma, compatível com as exigências postas.

Aqui destacamos naturalmente o emprego de novas tecnologias de informação e comunicação no ambiente escolar. No entanto, o corpo docente está apto para esta empreitada calcada na inovação? Quais seriam as habilidades, os pré-requisitos e competências exigidas para sua atuação? Estas são algumas das questões que serão abordadas neste trabalho.


2 CONHECIMENTO INTELIGENTE

Conhecimento inteligente não é um saber factual, e sim um sistema organizado e entrelaçado de conhecimentos disciplinares e interdisciplinares capazes de proporcionar aptidões, ou seja, conhecimentos e competências metacognitivas para a resolução de problemas impostos pelo cotidiano.

Ter o conhecimento armazenado adequadamente na cabeça não significa ainda a sua utilização na resolução dos diferentes problemas. Isto posto, a escola deve empenhar-se para que os conhecimentos dos alunos possam ser utilizados na esfera extracurricular de sua atuação. Onde o pré-requisito fundamental para o processo de aprendizagem não é o conhecimento formal de uma disciplina e sim uma sólida e bem estruturada base de conhecimento interdisciplinar e extracurricular

O corpo docente precisa desenvolver habilidades e competências para poder trabalhar na esfera emocional. Fazer com que os alunos estabeleçam metas para se sentirem auto motivados, forjando concorrência nos objetivos desejados, para a partir daí poderem avaliar suas vitórias e derrotas. Forjando desta forma aptidões que os preparem para responder logicamente aos desafios da vida.

Para tal, faz-se necessário construir e reforçar habilidades e competências duradouras de ensino, para que com as quais se possam intermediar também valores sociais, éticos e individuais, para que conflitos sociais, econômicos e culturais possam ser resolvidos sob a ótica da solidez ética, pautados nos princípios da democracia.

Ainda de acordo com Saviani (1991, p. 21), “o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens”. Nesta concepção trata-se de valores atemporais, indispensáveis no processo de aprender a ser.


3 HABILIDADES E COMPETENCIAS REQUERIDAS FRENTE A ERA DIGITAL

Analisando a atual realidade do corpo docente frente a este novo paradigma, que exige sobretudo uma abordagem criativa e inovadora, somos obrigados a concordar que no presente momento muitos educadores sentem-se inseguros frente a esta nova realidade.

A era digital na escola deve ser vista enquanto ferramenta pedagógica socializadora de informação no processo de ensino-aprendizado. Para tal ela requer profissionais altamente qualificados, com visão crítica, criativa, com capacidade de ensinar a aprender a aprender.

No entanto o processo de atualização dos próprios educadores no presente momento consiste em cursos ou palestras de curta duração, não os preparando efetivamente para a utilização destas novas tecnologias. Faz-se necessário oferecer oportunidades ao quadro docente, no sentido de desenvolver habilidades e competências continuadas, garantindo desta forma uma atuação permanentemente inovadora e criativa.

Pois o momento atual nos mostra uma grande parcela de professores estranhos a estas novas ferramentas indispensáveis no processo de ensino-aprendizagem. Assim por exemplo, apesar da inclusão digital gradual nas escolas, muitos ainda estão presos ao passado por não saberem utilizar tais recursos, acomodando-se em suas aulas tradicionais e incorrendo na inércia intelectual.

Portanto é necessário que ocorram mudanças na forma de conceber o trabalho do docente, flexibilizando os currículos escolares, oportunizando o acesso e o uso de informações que extrapolem as fronteiras disciplinares, situando-as no contexto do fomento à pesquisa, priorizando o conhecimento interdisciplinar. Processo, no qual o professor e o aluno devem interagir enquanto sujeitos, garantindo assim uma maior autonomia na busca por conhecimentos.

Contudo é de fundamental importância dar a oportunidade aos educadores para desenvolver as competências exigidas para dominar estas novas técnicas da era digital. Com isso eles terão as capacidades necessárias para orientar os alunos na busca efetiva de informações no ciberespaço. Em que o amplo conhecimento destas tecnologias seriam os pré-requisitos que formariam o leque das competências, neste contexto será determinante a habilidade do docente na orientação e na condução, enquanto parceiro na busca do conhecimento.

Desta forma o professor e o aluno pesquisam, debatem, constroem e produzem conhecimento. Neste processo serão reveladas as habilidades do educador na tradução dos pré-requisitos e competências adquiridas.


4 CONCLUSÃO

As tendências do modelo social atual apontam para um dinamismo sem precedentes na história da humanidade, onde novas formas de comunicação e informatização desempenharão papel preponderante.

A partir destas premissas, faz-se necessário a discussão dos efeitos da era digital na vida das gerações vindouras e as formas adequadas para traduzir esta realidade no ambiente escolar a partir do presente, para poder conduzir este processo adequadamente no futuro. Neste contexto novos pré-requisitos, competências e habilidades na atuação docente deverão ser levados em consideração.

Portanto, é de suma importância que ocorram mudanças substanciais na forma atual de ensinar, para produzir a partir da inclusão digital o conhecimento inteligente.


5 REFERÊNCIAS

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991.

VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DO JUNDIÁ CINZA (Rhamdia quelen) EM TANQUES-REDE NA REGIÃO DE VACARIA-RS

VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DO JUNDIÁ CINZA (Rhamdia quelen) EM TANQUES-REDE NA REGIÃO DE VACARIA-RS




Odilon Manske

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ciências Biológicas - Trabalho de Graduação

25/06/2009



RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a viabilidade econômica do jundiá cinza na produção em tanques-rede na região de Vacaria-RS. O projeto de pesquisa foi desenvolvido num açude com 7,8 ha de lâmina de água na localidade de Passo do Carro, município de Bom Jesus-RS. O procedimento neste estudo compreendeu dois períodos, um para a recria e outro para a engorda. Para o primeiro ciclo foram estocados 2.400 alevinos de jundiá com um peso médio de 7,5 g/indivíduo em um tanque-rede medindo 2 x 2 x 1,5 m, com capacidade útil de 5,2 m³ de água e alimentados com ração comercial extrusada contendo 42% de PB. Para o ciclo de engorda 2.280 indivíduos foram estocados em três tanques-rede na proporção de 800 peixes para os tanques 1 e 2 e 680 para o tanque 3, todos com a mesma capacidade útil de 5,2 m³ de água. Neste período foi administrada ração comercial extrusada com 32% de PB. Os resultados apontam para um ganho de peso, compreendendo os dois períodos, de 681,94 kg, conversão alimentar de 1,3/kg e taxa de sobrevivência de 92,3%. Mediante os resultados, sugerimos o procedimento de recria para o Rhamdia quelen, como forma eficiente de controle, possibilitando ainda a administração diferenciada de alimento. A viabilidade econômica foi avaliada segundo o desempenho do jundiá cinza e os custos para a implantação e manutenção do projeto. Os resultados obtidos indicam a viabilidade do cultivo desta espécie para a região.

Palavras-chave: Jundiá cinza; Tanques-rede; Recria; Engorda; Desempenho.



1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui condições extremamente favoráveis para o incremento da produção de pescado cultivado. São 10 milhões de hectares de lâmina d’água em reservatórios de usinas hidrelétricas e propriedades particulares no interior do país, (SEAP/PR, 2006).

Neste contexto, a produção de pescado em tanques-rede é uma alternativa para os produtores que possuem reservatórios de água, na forma de açudes, que normalmente são utilizados para outros fins, ou, que apresentam dificuldades para a prática da piscicultura convencional, vindo a desempenhar função marginal dentro de suas propriedades.

A produção do jundiá cinza no município de Vacaria-RS e região vêm ocorrendo de forma incipiente, geralmente consorciado com outras espécies como as carpas e em sistemas extensivos e semi-intensivos. Os resultados de produção nestes sistemas se encontram aquém do esperado para esta espécie.

A pouca disponibilidade de alimento artificial, a competitividade entre as espécies, a depredação por predadores de toda ordem e a fuga de grande parte dos indivíduos dos açudes que não possuem um sistema de controle na saída de água, podem ser apontados como os fatores principais pelo desempenho insignificante desta espécie nestes sistemas de produção.

Assim, surgiu a necessidade de se encontrar alternativas para sua produção na região de Vacaria-RS, uma vez que a demanda pelo consumo do jundiá é maior do que a de outras espécies produzida, tais como: carpa comum (Cyprinos carpio), carpa capim (Ctenopharyngodon idella), carpa prateada (Hypophthalnichthys molitrix) e carpa cabeça-grande (Aristichthys nobilis).

Na instalação do projeto percebemos algumas vantagens em relação ao sistema convencional de produção, pois existe a conveniência do produtor utilizar os reservatórios de água já existentes, não sendo necessário aporte financeiro para a sua construção.

A confecção de açudes e tanques escavados na terra geralmente envolve custos elevados, como, remoção de terra com maquinário, sistemas hidráulicos de drenagem, entre outros. Além disso, o processo de instalação muitas vezes traz consigo impactos negativos ao meio ambiente.

A outra vantagem diz respeito ao processo produtivo, que proporciona um acompanhamento e manejo mais eficiente. Uma vez que evita a ação de predadores, pois os tanques são estruturas cercadas por tela por todos os lados, reduzindo as perdas. Ajusta o uso de alimentos de acordo com a demanda dos peixes, sendo que se utiliza ração extrusada que é flutuante, permitindo a visualização do consumo.

Através deste método de criação o processo de captura é simplificado, permitindo inclusive fazer a depuração nos próprios tanques com a suspensão da alimentação na fase da despesca, medida indispensável para a qualidade do pescado.

O desempenho do Rhamdia quelen, foi avaliado durante 189 dias de cultivo, compreendendo o período entre 28 de novembro de 2008 a 05 de junho de 2009, no município de Bom Jesus-RS a 39 km da sede de Vacaria-RS. Com as seguintes coordenadas geográficas: latitude Sul 28°33’02.13” e longitude Oeste 050°39’47.45”, com altitude de 968m.

Neste período foram avaliadas as taxas de conversão alimentar, a quantidade e o custo da ração utilizada, custo de instalação do projeto, ganho de peso diário e no período, foram analisados ainda os parâmetros físico-químicos da água, como, O₂ dissolvido, pH, temperatura, transparência e amônia, através de duas medições semanais.

No entanto, é necessário alto grau de conhecimento sobre a espécie a ser cultivada, como, suas exigências nutricionais, índices de tolerância aos parâmetros físico-químicos da água, conversão alimentar e sua aceitação pelo mercado consumidor.

Estes são alguns requisitos que devem ser levados em consideração nas tomadas de decisões visando o desenvolvimento desta atividade no meio rural.

Desta forma, a elaboração de políticas públicas na área de produção de pescado, deve ter como foco o desenvolvimento rural sustentável, tendo como objetivo a diversificação na produção da agricultura familiar visando o incremento da renda, propiciando assim o desenvolvimento local.

Isto será possível através da transferência de novas tecnologias aos produtores sobre o cultivo de peixes, que permitam a produção racional de pescado, potencializando o rendimento dos ambientes aquáticos subutilizados.

Deste modo, estaremos disponibilizando ao pequeno produtor familiar e aos demais produtores rurais a possibilidade da exploração econômica do pescado como uma alternativa de renda a mais.


2 A ESPÉCIE ESTUDADA

O Rhamdia quelen tem distribuição neotropical, do sudeste ao norte do México e do centro ao sul da Argentina (SILFVERGRIP aput GOMES et al., 2000). A sistemática taxonômica do gênero Rhamdia é confusa desde que foi descrita.

Ainda de acordo com (SILFVERGRIP aput GOMES et al., 2000), após ampla revisão taxonômica concluiu que o gênero Rhamdia é formado de apenas 11 espécies dentre 100 anteriormente descritas. Segundo o mesmo autor, Rhamdia quelen pertence à seguinte divisão taxonômica: Classe: Osteichthyes, Série: Teleostei, Ordem: Siluriformes, Família: Pimelodidae, Gênero: Rhamdia, Espécie: Rhamdia quelen.

Porém, recentemente com nova revisão taxonômica a espécie Rhamdia quelen foi incluído na família Heptapteridae (BOCKMANN E GUAZZELLI aput RAIDEL, 2007).

Os adultos desta espécie são onívoros no ambiente natural, tendo preferência por peixes, crustáceos, insetos, restos vegetais e detritos orgânicos. Os organismos encontrados no conteúdo gastrintestinal do jundiá não são restritos ao habitat bentônico, indicando que essa espécie é generalista com relação à escolha do alimento (GOMES et al. aput CARNEIRO; MIKOS, 2005).

Desta forma, esta característica contribui para a adaptação deste peixe ao alimento artificial, facilitando a sua domesticação e condicionamento às condições de cultivo.

A conversão alimentar desta espécie ainda é pouco estudada, uma vez que existem poucas pesquisas publicadas a este respeito. Em tanques escavados em terra conseguiu-se uma conversão alimentar de 1,8:1, chegando a um peso final de 800 gramas em um ano (CIELO, 2000).

Em trabalhos recentes sobre a viabilidade econômica do jundiá cinza, Reidel (2007) e Silva (2008) usaram diferentes rações comerciais e obtiveram o melhor desempenho com uma nutrição contendo 30% de PB e 3.250 kcal de ED/kg e 35% de PB e 3.250 kcal de ED/kg respectivamente.

Já para a fase de alevinos, Piedras et al. (2006) testaram diferentes níveis de proteína bruta e energia digestível para a fase inicial de desenvolvimento do R. quelen, e obtiveram melhores resultados com 51% de proteína bruta e 3.400 kcal/kg de energia digestível.

Entre os parâmetros físico-químicos da água, a temperatura desempenha papel significativo no desempenho do peixe cultivado. Assim Moraes, Piedras e Pouey (2005), obtiveram melhor resultado à temperatura de 23,7 ºC. Ainda de acordo com estes autores:

A temperatura corporal dos peixes é regulada através do sangue, no processo respiratório, pois, quando o sangue passa pelas brânquias, o calor metabólico gerado é perdido para o ambiente, através da água. Animais expostos a temperaturas inferiores ao seu “ótimo” têm o consumo de alimento limitado à sua taxa metabólica basal. Quando o animal atinge a temperatura corpórea ideal, o alimento consumido é otimizado, liberando a energia necessária à multiplicação celular e ao crescimento.

Dados obtidos com este trabalho, revelaram ainda que esta espécie alimenta-se inclusive nos dias de frio intenso, com temperaturas do meio abaixo de 7 ºC, porém em uma escala menor. Esta observação caracteriza uma grande vantagem sobre as carpas cultivadas na região, uma vez que estas cessam a alimentação durante os períodos de frio intenso.


3 MÉTODOS DE MANEJO DO JUNDIÁ CINZA DURANTE O CICLO DE PRODUÇÃO

O ciclo produtivo contou com dois períodos: a recria e a engorda. O primeiro período foi entre os dias 28 de novembro de 2008 e 28 de fevereiro de 2009, totalizando 93 dias. O segundo foi iniciado no dia 01 de março de 2009 com término em 05 de junho de 2009, com 96 dias de cultivo.

Para esta pesquisa foram adquiridos, de uma piscicultura comercial, 2.400 alevinos de jundiá, com 7,5 g de peso médio por indivíduo. No dia 28 de novembro de 2008 os mesmos foram liberados em um tanque-rede com berçário removível, nas dimensões de 2 x 2 x 1,5 m, sendo a malha interna de 5 mm para impedir a fuga dos alevinos. A capacidade útil deste tanque para a recria foi de 5,2 m³ de água.

A densidade de estocagem para este procedimento foi de 461 alevinos/m³ de água. Este tanque fez parte do conjunto de três, que após a recria teve o berçário removido, servindo também para a engorda final. Desta forma, disponibilizamos três tanques-rede para este período, com as mesmas dimensões deste utilizado na recria. Para esta fase procedeu-se com uma densidade de 800 peixes para os tanques 1 e 2 e 680 para o tanque 3.

A alimentação fornecida na fase de recria foi ração comercial inicial (Supra) extrusada 2,5 mm contendo 42% de PB, 9% EE, 3800 kcal/kg de ED, 3% Ca, 1,5% P e 500 mg de vitamina C. Já para o período de engorda, foi empregada ração comercial (Supra) extrusada 5 mm a 32% de PB, 7% EE , 3500 ED kcal/kg, 2% Ca, 1% P e 300 mg de vitamina C.

Onde: PB = Proteína Bruta; EE = Extrato Etéreo (gordura total num alimento); ED = Energia Digestível; Ca = Cálcio; P = Fósforo e Vitamina C = ácido ascórbico.

Na recria a administração da ração foi prevista inicialmente a uma taxa de 10% da biomassa e na engorda a uma proporção de 2,5%. No entanto esta prática não se mostrou eficiente, uma vez que havia dias com sobras de ração e outros com falta. Assim, optou-se por fornecer a ração até o ponto de saciedade aparente dos peixes.

No local do projeto foi disponibilizado um funcionário para o fornecimento da ração. Na fase da recria este procedimento foi realizado três vezes ao dia, nos seguintes horários: 08:00, 14:00 e 20:00 horas. Para o período da engorda se procedeu com dois arraçoamentos, o primeiro às 08:00 horas da manhã e o segundo ao entardecer às 20:00 horas.


3.1 DESEMPENHO NO CICLO DE RECRIA

Os índices de desempenho na primeira etapa foram obtidos através de três biometrias realizadas mensalmente, conforme o gráfico a seguir:

O período da recria mostra uma média de desenvolvimento descontínua, mas sem grandes oscilações no ganho de peso. Assim para o primeiro mês obteve-se um ganho de peso individual de 1,27 g/dia; no segundo mês houve uma queda para 0,96 g/dia e no terceiro mês uma elevação para 1,53 g/dia.

Isto pode estar relacionado às medidas de mudanças alimentares tomadas a partir da segunda quinzena do segundo mês, onde se iniciou a administração alimentar conforme a demanda da espécie, apresentando desta forma melhor desempenho no terceiro mês.

No entanto, consideramos ser de fundamental importância o procedimento da recria para esta espécie, uma vez que isto permite acompanhar de forma mais precisa a taxa de sobrevivência, possibilitando tomar medidas de precaução entre um ciclo e outro, evitando perdas desnecessárias. Facilita ainda, procedimentos de triagem por tamanho e peso, possibilitando um lote com mais homogeneidade final, cujo procedimento não foi adotado neste trabalho.

Desta forma, este método permite ao produtor administrar uma dieta alimentar mais eficiente na primeira fase do desenvolvimento desta espécie. Uma vez que, peixes com maior peso adquiridos das pisciculturas não dizem nada a respeito da idade e da dieta administrada, podendo comprometer o seu desempenho posterior.


3.2 DESEMPENHO DA ESPÉCIE NO PERÍODO DA ENGORDA

O ciclo de engorda foi iniciado dia 01 de março de 2009 com término no dia 05 de junho de 2009, com a despesca parcial dos tanques. Para tanto, foram utilizados 2.280 peixes provenientes da fase anterior. Neste período foi avaliado o desempenho no ganho de peso mensal, conversão alimentar e taxa de sobrevivência.

Para a avaliação do desempenho da espécie foram realizadas biometrias na taxa de 10% de amostragem por tanque.

Este resultado aponta para um desenvolvimento descontínuo para este ciclo. Assim, obtivemos um ganho de peso para o mês de março de 2009 de 181,48 kg significando um ganho de 2,65 g/indivíduo/dia. No mês de abril houve uma leve oscilação negativa para um ganho de 2,23 g/indivíduo/dia e para o mês de maio até o dia 05 de junho, (37 dias), quando ocorreu a despesca, houve uma queda para 1,59 g/indivíduo/dia, sendo que neste período houve um ganho de peso de 58,7 g/indivíduo.

O maior ganho de peso deste ciclo foi verificado durante o mês de março, onde a média das temperaturas esteve em torno de 23 ºC, o que corrobora com os resultados obtidos por Moraes, Piedras e Pouey (2005). Para o mês de maio até o dia 05 de junho houve um decréscimo considerável nas temperaturas com a entrada de frentes frias neste período, o que reduziu drasticamente o consumo de ração.

Na 2ª quinzena do mês de março estava-se administrando 12 kg de ração na média por dia e no final do mês de maio e inicio de junho, esta quantidade foi reduzida para 4 a 5 kg por dia, conforme a demanda.

Com exceção da temperatura, os demais parâmetros físico-químicos da água analisados durante o período da recria e engorda não apresentaram diferenças relevantes entre si e tampouco influenciaram o desempenho da espécie. Foram encontradas variações de 6,5 e 8,5 mg/L para oxigênio dissolvido, 7,1 e 7,5 para o pH, índices inferiores a 0,5 mg/L para a Amônia e 50 e 60 cm para a transparência da água.

Desta forma, o desempenho no ciclo de engorda foi influenciado fundamentalmente pela queda da temperatura d’água. Assim, os resultados obtidos neste período foram conforme apresentado na figura abaixo:

Há de se notar, que neste ciclo houve uma taxa de sobrevivência maior que na recria, na proporção de 97,15% para 95% respectivamente, que pode ter sido influenciado pela dieta diferenciada neste ciclo, fortalecendo os indivíduos para a etapa seguinte. Importante ainda, é que peixes mais jovens, na fase de recria, são mais suscetíveis a diferentes patógenos, pelo fato de não terem desenvolvido completamente o seu mecanismo de defesa.

Para chegar ao número total de peixes sobreviventes nos três tanques se procedeu com a contagem dos peixes que foram morrendo ao longo deste ciclo, uma vez que os mesmos apareciam na flor d’água dentro dos tanques. Assim foram contados 65 indivíduos que pereceram durante a engorda até a despesca parcial, sobrando teoricamente 2.215 peixes.

Já a conversão alimentar deste período foi menor ao da recria, que pode também ser explicada pela administração de dieta diferenciada. Em todo caso, o resultado obtido está acima da média para esta espécie, o que confere grandes perspectivas para sua produção comercial.


3.3 DESEMPENHO TOTAL DO CICLO PRODUTIVO

A espécie estudada, durante os dois ciclos de criação, apresentou resultados acima daqueles obtidos por diferentes trabalhos (CIELO, 2000; REIDEL, 2007; SILVA, 2008). O que pode ser explicado pelo manejo diferenciado, compreendendo dois ciclos de produção: a recria e a engorda.

No dia 05 de junho de 2009 ocorreu a despesca parcial dos tanques. Optou-se por este procedimento, uma vez que o produtor vai terminar o ciclo de produção quando os peixes atingirão uma média de 0,5 kg para a sua comercialização e também por motivos de prazo para este projeto, sendo que o mesmo teve de ser encerado nesta data.

Foram capturados 380 indivíduos aleatoriamente dos tanques 1 e 2, os quais foram pesados aferindo um peso de 120 kg, este peso por sua vez foi dividido pelos 380 jundiás resultando numa média de 316 g/peixe. Os mesmos foram comercializados in natura na peixaria do Mercado Público Municipal de Vacaria-RS, ao valor de R$ 5,00 reais o kg.

Alguns indivíduos atingiram um peso de 700 g, medindo entre 37 e 38 cm, outra parcela pesou entre 450 e 500 g, com medidas entre 30 e 32 cm, sendo que a maioria permaneceu na faixa de 350g. No entanto, houve alguns peixes que pesaram 200g, apontando para uma desconformidade do lote.

As causas prováveis da heterogeneidade do lote podem ter sido: carência de classificação dos peixes no término do período de recria, alta taxa de densidade que favoreceu que alguns indivíduos se sobressaíssem sobre outros na captura do alimento e ainda a falta de melhoramento genético desta espécie.


4 VIABILIDADE ECONÔMICA

Em relação a viabilidade econômica da produção do jundiá, levamos em consideração diferentes aspectos do seu desempenho. Assim, a conversão alimentar, taxa de sobrevivência, valor do kg de peixe, ciclo produtivo, entre outros, foram analisados.

Por outro lado, os aspectos relativos à sua viabilidade econômica, como por exemplo: custo de implantação do projeto, investimento, produção, custos operacionais, custo fixo, renda bruta, lucro líquido, taxa e retorno de capital foram obtidos através da tabulação dos dados e calculados em planilhas Excel.

Os resultados econômicos deste projeto são animadores. No entanto, devemos levar em consideração que o preço de mercado para o jundiá praticado hoje no município, contribuiu para este resultado.

Para os cálculos tomaram-se por base os resultados obtidos com a despesca parcial, em que o peso médio do peixe foi de 316 g, multiplicado pelo total teórico estocado nos três tanques, ou seja, 2.215 peixes.

No entanto, se projetarmos um peso final médio de 500 g/indivíduo os indicativos econômicos seriam ainda mais positivos em virtude da elevada taxa de conversão alimentar, aumentando assim a lucratividade da produção.


5 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos neste projeto pioneiro na região de Vacaria-RS, apontam para a possibilidade real de incrementar a produção de pescado cultivado na região no sistema de tanques-rede, utilizando-se para este fim o jundiá cinza.

O procedimento de recria mostrou-se eficiente, possibilitando a administração de dietas nutricionais diferenciadas e pode ter contribuído com o aumento da taxa de sobrevivência no período de engorda.

As densidades de 461 indivíduos/m³ de água no período da recria e 154/m³ na engorda poderão servir de parâmetro para sua produção na região, uma vez que não influenciaram no desempenho da espécie. No entanto, nesta densidade recomendamos proceder com a classificação no término do ciclo de recria, possibilitando desta forma a obtenção de um lote mais homogêneo.

Ficou evidenciado também, que esta espécie apresenta melhor desenvolvimento com uma temperatura em torno de 23 ºC. Neste sentido, deverão ser realizadas mais pesquisas visando o seu desempenho durante os meses de inverno nesta região, possibilitando desta forma o escalonamento de sua produção para o ano inteiro.

Quanto ao manejo, como, biometrias e despesca parcial, esta espécie apresentou boa tolerância às temperaturas inferiores a 10 ºC, o que corrobora com a sua rusticidade, permitindo ainda os procedimentos inerentes durante o período de inverno.

Por fim, recomendamos a repetição deste trabalho nestas condições, porém com a coleta de mais dados sobre o desempenho desta espécie.


6 REFERÊNCIAS

CARNEIRO, P. C. F.; MIKOS, J. D. Freqüência alimentar e crescimento de alevinos de jundiá, Rhamdia quelen. Cienc. Rural,  Santa Maria,  v. 35,  n. 1, fev.  2005. Disponível em: . Acesso em: 12  fev.  2009.

CIELO, G. Jundiá cinza: como um bom bagre cresce bem e encanta piscicultores do Sul. Panorama da Aqüicultura, v.10, n.58, p.14-19, 2000.

GOMES, L. C. et al. Biologia do jundiá Rhamdia quelen (Teleostei, Pimelodidae). Cienc. Rural,  Santa Maria,  v. 30,  n. 1, mar.  2000 .   Disponível em: . Acesso em: 12  fev.  2009.

MORAES, P. R. R.; PIEDRAS, S. R. N.; POUEY, J. L. O. F. Crescimento de juvenis de jundiá (Rhamdia quelen), de acordo com a temperatura da água. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. 2009.

PIEDRAS, S.R.N. et al. Resposta de alevinos de jundiá (Rhamdia sp.) alimentados com diferentes níveis de proteína bruta e energia digestível. Revista Brasileira Agrociências, Pelotas, v.12,n.2,p.217-220, abr-jun. 2006.

REIDEL, A. Níveis de energia e proteína na alimentação do jundiá (Rhamdia quelen) criados em tanques-rede. Disponível em: Teses/Tese%20Adilson%20Reidel.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2009.

SEAP/PR. Mais Pesca e Aqüicultura. Disponível em:
%20de%20Desenvolvimento/Cartilha_SEAP_final.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2009.

SILVA, J. R. Análise da viabilidade econômica da produção de peixes em tanques-rede no reservatório de Itaipu. Disponível em:
arquivos/arq_Josemar_Raimundo_da_Silva_21.pdf > Acesso em: 10 jun. 2009.







Aprender a Ser

APRENDER A SER




Odilon Manske
22/02/2007


RESUMO

Aprender a ser como um dos Quatro Pilares da Educação se relaciona com todos os aspectos da formação total do homem. Numa época em que transformações tecnológicas em todos os campos se processam com grande rapidez, assim como o acirramento dos problemas globais, obrigando a transformações no que ensinar e em como ensinar.

Palavras-chave: Educar; Ser; Transcender.


1 INTRODUÇÃO

Situaremos este trabalho dentro de uma visão dialética entre ser e porvir.

Tentaremos ainda resgatar o conceito socrático de educar como algo atemporal que é a busca da verdade mais profunda e trazer à luz as potencialidades que em nós existem, tal como a semente que necessita apenas de certas condições exteriores para que, o que nela está contido como essência, se possa transformar em planta e florescer.

Isso tem suas implicações no atual modelo de ensino. Para atingir os objetivos deste conceito de educação é necessário que o aluno seja visto como único sujeito, com suas crenças e concepções próprias e no contexto de ensino atual isso beira à utopia. Pois como pode o professor, mal remunerado, ver o aluno como sujeito individual dotado de singularidades com classes superlotadas. Além do professor não ver este aluno individualmente, este aluno não se sente acolhido suficiente pelo professor, pois não recebe a atenção que deseja, necessita e gostaria de ter, já que a afetividade é parte do processo da construção do conhecimento. Pois o desejo de aprender deve ser desenvolvido no interior do aluno para que este possa mobilizar sua atividade intelectual.


2 DIALÉTICA ENTRE SER E PORVIR

Procuramos entender o “ser” enquanto dialética entre a existência do homem e o porvir. Por um lado o homem intenta uma busca permanente para realizar aquilo que ainda não é, por outro lado, existir é construir um projeto, em que aprender a ser requer o seu poder de transcender sobre o mundo e sobre si mesmo. Portanto, ser em si não é algo terminado, concluído ou absoluto, mas algo a ser negado eternamente pelo porvir. Sem essas prerrogativas o eu no homem comum é destruído, arruinado, dissolve-se na massa humana, no censo comum. Em vez de tornar-se si mesmo, ele torna-se aquilo que os outros desejam, revelando sua impessoalidade no cotidiano, o abandono do próprio eu diante da opressão do mundo como um todo.

Para escapar dessa alienação somente a educação pode dar a resposta. Somente através dela o homem pode aprender a transcender, pois ele é o único ente capacitado a atribuir um sentido ao ser (ser enquanto ser no mundo), plutonizando (rebaixar; extinguir) dessa forma a subjugação da ditadura do impessoal, alienada, radicalmente distraída de seu sentido fundamental, recobrando sua autenticidade perdida ao encontro consigo mesmo.


3 O EDUCAR COMO FATOR DETERMINANTE NA FORMAÇÃO DO HOMEM

Seria um erro se tomássemos o “aprender a ser” como algo isolado, devemos situá-lo dentro da totalidade dos quatro pilares da educação, pois existe uma dinâmica de interdependência.

Neste contexto, educar deveria ser o despertar da verdade mais profunda que existe em nós, para que seja possível o desempenho da própria função não só na vida social, mas, sobretudo para podermos nos situar no mundo. No entanto, cada sociedade em momento determinado do seu desenvolvimento, possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível, voltado exclusivamente para reproduzir o status quo. Passando a impressão de que é impossível educar os nossos filhos sob a ótica de um desenvolvimento total.

Vivemos num mundo cada vez mais conturbado, seja pelos conflitos regionais, ou pela degradação da natureza, aquecimento global, problemas étnicos, criminalidade, drogas, prostituição, fome, epidemias e uma globalização muitas vezes injusta aos países mais fracos economicamente. E por outro lado, vemos o ser humano alheio a tudo isso, sociedades inteiras coniventes frente a esses problemas, como se não fossem seus, isso pode ser um erro fatal, pois o que está afetando as pessoas hoje em determinas regiões ou países pode vir a me afetar amanhã.

É sob este prisma que a educação moderna deve atuar. Existe certa banalização em relação a estes problemas globais, onde a mídia desempenha papel fundamental. Reportamo-nos principalmente aos noticiários televisivos, onde geralmente são mostradas tragédias ecológicas, guerras, conflitos, epidemias, criminalidade nua e crua, sem dar uma visão do porque da origem disso.

Exemplo clássico é o conflito entre palestinos e israelenses ou ainda a guerra civil no Iraque mostrado dia após dia pela mídia, onde somos confrontados com atentados, mortes e todo tipo de insanidades. Fala-se do Hamas, Fatah, Likud e outras organizações no caso do conflito dos palestinos com os israelenses, assim como dos sunitas, xiitas e curdos no caso do Iraque, como algo corrente, como meras figuras num tabuleiro de xadrez. Mas não se conta a história real desses povos e países envolvidos e muito menos sobre a real origem desses conflitos e o papel de cada um desses grupos naquelas sociedades. 

Este é o aspecto sombrio da mídia, que além de não dizer nada sobre a raiz dos problemas, ainda desempenha papel alienante na medida em que vende imagens prontas, contribuindo dessa forma para a banalização dos problemas.

O século XXI clama por uma estratégia globalizada de educação, onde os quatro pilares devem ser aplicados na íntegra, visando a formação de um novo ser humano. Um homem mais solidário, ético, cooperativo, questionador, detentor de toda uma gama de conhecimentos sobre história, cultura geral e sobre tudo geografia humana, para que ele detenha as ferramentas para pensar globalmente e possa agir localmente dentro de uma visão humanizadora e emancipatória.

Entendemos que a educação, no mundo de hoje, deve priorizar o florescimento total do ser humano segundo a sua individualidade e sua potencialidade. “Deve-se perceber, que o indivíduo é único, pois cada um tem uma história de vida diferente e, que os motivos que despertam o desejo em aprender em um possa não despertar em outro” (CHARLOT, 2000). Portanto, algo que deve vir de dentro, o aluno deve ser motivado a aprender a aprender se conhecer para poder explorar toda a sua riqueza interior.

Para que isso se concretize é necessário repensar o papel do educador, uma reciclagem se faz necessária, sendo através de cursos de formação, palestras, seminários e outras formas de incrementar o seu conhecimento. Ou seja, ele deve ser conduzido a se redescobrir e somente assim poderemos vir a ter um educador verdadeiramente motivado para cumprir o seu papel de parteiro do saber. Hoje, as dificuldades se relacionam com a própria formação dos educadores. Pois esta formação também não se efetivou no sentido da formação total. Levando-se em consideração ainda que em muitos casos o educador não o é por vocação, por escolha consciente, do que ser e fazer. Mas talvez impulsionado pela conveniência do único curso oferecido na época de sua formação ou ainda das dificuldades financeiras de fazer um curso naquilo que realmente queria ser profissionalmente. Resultando disso muitas vezes sentimentos de frustração, complementadas pela baixa remuneração e péssimas condições de trabalho.


4 CONCLUSÃO

Para escapar da alienação, do censo comum, do “ser” do homem mediano e libertar-se do jugo do impessoal, faz-se necessário transcender sobre o mundo e si mesmo, para redescobrir a verdadeira essência que existe em cada ser.

E é desde a mais tenra idade que devemos, através do processo de educar, fazer com que as crianças exteriorizem todas as suas potencialidades, para que através delas elas possam desenvolver suas aptidões nos diversos campos do saber, oportunizando assim a sua total formação.

Esse início de século abre-se com inúmeras incertezas e medos, inclusive o que diz respeito à própria sobrevivência do homem no planeta. Para fazer frente a todos estes problemas, é crucial o advento de uma nova consciência que priorize valores como a solidariedade, concórdia, paz, cooperação, ética e principalmente indignação coletiva frente aos flagelos e injustiças sociais.

No entanto, o nosso modelo atual de ensino está longe de contemplar estas prerrogativas. Necessitamos urgentemente de reformas que contemplem o papel do educador, com cursos de capacitação, melhor remuneração, menos períodos de aula e um número máximo de alunos por sala de aula. Somente assim ele poderá desempenhar sua função em toda plenitude. E aí talvez, numa bela manhã de segunda-feira, ele entre na sala de aula e diga assim aos seus alunos: eu estou aqui porque vocês me amam.


5 REFERÊNCIAS

CHARLOT, B. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed, 2000.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Ética e Ciência: Urgência do Debate

ÉTICA E CIÊNCIA: URGÊNCIA DO DEBATE




Odilon Manske

22/01/2009




RESUMO



Ética e ciência, o grande dilema neste início de Século. Por isso mesmo a importância do debate, uma vez que toda atividade científica tem desdobramentos tanto positivos como negativos para o meio ambiente e para a própria humanidade. Isto posto, é de fundamental importância a significação universal do conceito de ética na ciência para que se possa elaborar códigos de ética em escala global. Facilitando desta forma, que os responsáveis sejam chamados à responsabilidade.

Palavras-chave: Avanços científicos; Meio ambiente; Códigos de ética.


1 INTRODUÇÃO

Vivemos numa época de grandes transformações em que economia, ciência e tecnologia desempenham papel preponderante. Avanços científicos e novas tecnologias sempre têm efeitos e reflexos sobre o nosso cotidiano, em que as forças de trabalho intelectual estão na linha de frente destas transformações.

O fato da ciência e a pesquisa encontrarem-se subordinados à economia, que gera um clima de disputas e concorrências sem precedentes, levou indubitavelmente a uma situação de desconfiança. Isto posto, devemos colocar na ordem do dia a pergunta da legitimidade destas práticas econômicas e clarificar as responsabilidades sociais e éticas de seus atores.
Sobretudo quadros de alto nível técnico, dirigentes e engenheiros, esses, que desenvolvem novos produtos e tecnologias e as respectivas estratégias de mercado para abarcar novos mercados e que influenciam diretamente o meio ambiente, as condições de trabalho e os consumidores, é que situam-se no centro do dilema ético.

O que parece ser eficiente para o sistema econômico pode ser prejudicial ao meio ambiente, aos recursos naturais não renováveis, assim como pode destruir postos de trabalho ou ainda acarretar em danos financeiros ou de saúde para os consumidores.
A nosso ver é neste sentido que deve transcorrer o debate sobre ciência e ética. Pois também aqui se pode aplicar a lei da causalidade que diz que de cada ação resulta numa reação.

2 ÉTICA APLICADA SOB O PONTO DE VISTA FILOSÓFICO

Geralmente é fácil concordar com as normas básicas de conduta quando a formação do intelecto estiver sido impregnada por ensinamentos adquiridos através de crenças de cunho político-ideológicas ou religiosas como a Bíblia, o Alcorão, o budismo, o hinduísmo, o animismo ou outras. O inconveniente é que, em um conjunto definitivo de regras, sempre haverá exceções, como por exemplo, matar em legítima defesa, amplamente aceita apesar do mandamento “Não matarás”.

O sistema de convicções dos homens é composto por vários grupos de crença: religião, política, estética, crença dos pais, de seus pares e assim por diante. Cada grupo forma uma coleção de premissas que consideramos verdadeiros e que através delas formamos argumentos que consideramos sólidos.
Assim sendo, o homem forma grupos sociais distintos com crenças diferenciadas, isto significa que o que é correto para um muçulmano não o é para um budista, um católico, um ateu, um judeu e tantos outros.
No entanto, a ciência desde Galileu tomou por assim dizer um rumo diferenciado, galgando autonomia e vida própria em confronto com as idéias dominantes da época. Isto significa dizer que cientistas muçulmanos estão fazendo pesquisas, assim como judeus, cristãos, budistas, hinduístas e tantos outros em confronto com as crenças de seus grupos sociais.

Mas o que é eticamente correto? O que é o certo? Segundo Marinoff (2006, p. 200):

"A filosofia chinesa ensina que a marca da coisa certa é que, ao fazê-la, você permanece inocente. Se você satisfizer esse critério, estará na esfera moral. Outro princípio filosófico essencial deriva do pensamento hindu e jainista, em que é chamado de ahimsa. A tradução seria essencialmente: “nenhum mal aos seres sensíveis”. Esta é a base de todo código de ética profissional. Se as suas ações causam danos a outros, não são éticas".
Neste sentido torna-se necessário repensar todo o sistema de formação acadêmica, em que seja valorizada a formação interdisciplinar com atenção especial às disciplinas que enfocam a área social, econômica e o meio ambiente sob o ponto de vista filosófico e sociológico. Pois de outro modo não é possível saber o que é certo e errado, enfim, o que é ético.

Pois o cientista do século XXI deve saber com clareza que a sua ação terá desdobramentos na área social, econômica e no meio ambiente e deverá ser chamado à responsabilidade de seus atos.

Para que isto ocorra é urgente a elaboração a nível global de códigos de ética para nortear as atividades na esfera da ciência assim como no âmbito econômico. Isto significa que atividades que hoje são violentamente impactantes ao meio ambiente devem ser encerradas, como também o estabelecimento de regras claras na área dos transgênicos, células tronco, entre tantas outras, a fim de dar um rumo à ciência do futuro.

Por fim temos a convicção de que a ciência deve servir de ferramenta para dignificar o homem sob todos os aspectos e não para responder aos interesses da ganância.


3 CONCLUSÃO

Toda atividade científica traz consigo desdobramentos que podem ser positivos como no caso dos avanços na área da medicina, ou ainda estes que melhoram significativamente a qualidade de vida do homem. Assim como desdobramentos que podem ser altamente perniciosos ao meio ambiente e à humanidade.

A partir destas premissas, faz-se necessário o debate sobre os efeitos advindos dos avanços científicos e tecnológicos para o meio ambiente e para a humanidade no presente e no futuro. Afim de que possam ser estabelecidos critérios e códigos de ética que visem a preservação do meio ambiente bem como a diversidade das espécies incluindo o próprio homem.

No entanto é fundamental o discernimento do que é ético na ciência em escala global. Talvez este seja o maior desafio das ciências humanas na atualidade.


4 REFERÊNCIAS

MARINOFF, L. Mais Platão menos prozac. 10. ed. São Paulo: Record, 2006.